21 de março de 2014

Desvendando os Museus do Vaticano: os quartos dos papas

Teto em um dos quartos do papa Bórgia.

Mapa do Vaticano





Os Quartos de Bórgia (nº 22 do mapa)


Apesar de serem chamadas de câmaras privadas, apenas parte dessas salas abrigavam a vida pessoal do papa Alexandre VI (1431-1503), como a cama, as áreas de convivência e a ala do tesouro; o restante consistia em espaço para acontecimentos oficiais. Na área privativa apenas um pequeno número de pessoas podiam entrar. Convidados do alto escalão conseguiam um quarto de hóspede nessa área, como o rei francês Carlos VIII da França.

A decoração desses quartos foi meticulosamente arranjada e é esplendorosa, estando entre as que mais colocou afrescos nas paredes, com temas cristãos e mitológicos. Para cria-la, o papa convocou o pintor Pinturicchio com uma carta a Orvieto que explicava a razão por que a catedral da cidade teria seu término adiado - na época, Pinturicchio estava completando seus trabalhos em Orvieto. O papa Bórgia era afamado por muitas razões, e uma delas era o fato de ser patrono das artes. Muitas vezes utilizou métodos arrogantes - como nessa vez - para trazer os melhores artistas para o Vaticano.

Esses quartos consistem de seis salas e ante-salas, sendo que cinco foram decorados por Pinturicchio e sua escola. São eles: Sala dos Mistérios da Fé (Sala dei Misteri della Fede), Sala dos Santos (Sala dei Santi), Sala das Artes Liberais (Sala delle Arti Liberali), Sala do Credo (Sala del Credo) e a Sala das Sibilas e dos Profetas (Sala delle Sibille e dei Profeti). O único não decorado por Pinturicchio foi a Sala die Pontefici.

A Sala dos Mistérios da Fé apresenta cenas da vida da Virgem Maria: Anunciação, Nascimento de Cristo, Adoração dos Magos, Ressurreição de Cristo, Ascensão de Cristo, Descida do Espírito Santo no Pentecoste e Assunção da Virgem. As cenas ocorrem em áreas externas, tendo como pano de fundo obras arquiteturais extravagantes e mostrando o talento de Pinturicchio como pintor de paisagem.

A Sala dos Santos mostra cenas das vidas dos santos Catarina, Bárbara, Susana, Maria, Isabel, Sebastião, Antônio e Paulo, assim como herois do Velho Testamento (Davi e Judite), com figuras clássicas (Hércules e Netuno). Também está ilustrada a lenda de Ísis, Osíris e Apis, fazendo alusão ao mito da fundação da dinastia Bórgia.

A Sala das Sibilas e Profetas profetizam o futuro reino de Cristo com imagens de sibilas e profetas.

A Sala das Artes Liberais contém personificações femininas das sete artes liberais: retórica, música, aritmética, geometria, astronomia, lógica e gramática. O teto é dedicado à virtude da justiça e há ilustrações de várias cenas de julgamento da história clássica e Velho Testamento.

A Sala do Credo mostra 12 apóstolos acompanhado de profetas do Velho Testamento.

Em todas as salas, entre os desenhos, observam-se alusões aos Bórgia (tanto o brasão da família está lá quanto ilustrações da lenda de Ísis se transformando em boi).

No segundo episódio da primeira temporada da série de TV Os Bórgia, é possível ver Pinturicchio pintando uma amante de Rodrigo Bórgia, sua filha Lucrécia e um dos quadros da Sala dos Mistérios da Fé.

A Ressurreição de Cristo, Pinturicchio (1492-1494), na Sala dos Mistérios da Fé.

Os Quartos de Rafael (nº 19)


O que são hoje conhecidos como os quartos de Rafael foram as alas privadas dos papas Júlio II (1503-1513), Leão X Médici (1513-1521) e Clemente VII Médici (1523-1534). Apesar de ter sido decorado recentemente por Pinturicchio, Júlio II escolheu não utilizar os mesmos quartos do seu mau afamado antecessor Alexandre VI. Perugino e Luca Signorelli foram contratados para decorar as salas. Eles já tinham completado os afrescos das salas quando Rafael se juntou a eles em 1508, aos 20 anos. Júlio II ficou tão entusiasmado que ordenou a destruição de todo o trabalho de pintura das paredes de Perugino e Signorelli para que Rafael pintasse, tendo permanecido apenas o teto da Sala do Fogo, a pedido de Rafael.
Nessas salas, as pinturas ilustram eventos históricos (acredita-se que pelos assistentes de Rafael). Para homenagear os pontífices como patronos das artes, estão ilustrados também os brasões de suas famílias e os próprios pontífices em personagens históricos.

O Quarto de Constantino
Essa sala tem ilustrações da vida de Constantino, o primeiro imperador cristão de Roma (Batalha da Ponte Milviana, Batizado de Constantino, Doação de Constantino e  Visão da Cruz). O quarto mesmo era usado para audiências semi-oficiais e festas dos parentes dos papas.

O Quarto da Assinatura
Essa sala era usada como escritório e biblioteca particular, embora eventualmente fosse usado em encontros eclesiásticos. Os afrescos mostram a teologia, filosofia, poesia e justiça como os pilares do cristianismo e cada um está representado por modelos femininos. Abaixo de cada um existe um afresco. O mais famoso de todos é Escola de Atenas, abaixo da Filosofia. Ela representa um encontro idealizado entre acadêmicos e artistas do mundo clássico, Idade Média e Renascimento e constitui uma das maiores obras de Rafael. Estão representados nessa pintura o arquiteto Bramante, Platão, Aristóteles, Pitágoras, Euclides, Heráclitos (com as feições de Michelangelo) e ele mesmo (como um observador).


Escola de Atenas, Rafael (1509-1510).


Quem é quem na Escola de Atenas.

O Quarto de Heliodoro
Essa sala era utilizada para audiências particulares com o papa e sua decoração tinha como objetivo relembrar aos importantes convidados do poder de Deus como protetor dos papas. O nome Heliodoro vem de um dos afrescos, que mostra a expulsão de Heliodoro do templo, evento do Velho Testamento em que Deus defende o patrimônio da igreja. Os demais afrescos mostram A Libertação de São Pedro da Prisão, O Encontro de Leão, o Grande, com Átila e O Milagre de Bolsena, que mostra o milagre de 1263 que levou o papa Urbano IV a instituir o Corpus Christi.

A Expulsão de Heliodoro do Templo, Rafael (1511-1512).

O Quarto do Incêndio no Borgo
Esse foi o último quarto a ser pintado por Rafael. Tem diversas referências ao papa Leão X, mostrando cenas históricas dos papas Leão III e Leão IV, que assumem a feição de Leão X. Estão aí representados  O Incêndio no Borgo (mostra o incêndio que acometeu Borgo, um distrito de Roma, em 847; Leão IV é mostrado parando as chamas com o sinal da cruz); A Coroação de Carlos Magno (ocorrido em 800 por Leão III); O Juramento de Leão III (este estava sendo acusado de adultério e teve de jurar a Carlos Magno que era inocente);  e A Batalha de Ostia (mostra a vitória do papa Leão IV, junto com armadas de Nápoles, Amalfi e Gaeta, sobre os sarracenos).


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