Essa foto, na verdade, é perto da Villa Adriana, mas achei tão bonita e tão parecida com as imagens da Toscana... |
Esse post pode ser bobagem pra muitos de vcs, mas, como pode ter alguém em uma situação parecida com a minha, relato porque pode encorajar!
Por que dirigir na Toscana não foi uma decisão fácil
Nossa viagem pra Itália era pra ser toda feita de transporte público. Isso por diversos motivos, sendo um deles o fato de a Europa ter uma ótima malha de transporte público mas também porque eu e meu consorte não dirigimos. Meu digníssimo não tem nem carta de motorista e eu, apesar de ter carta há 12 anos, contava nos dedos as vezes em que dirigi (não temos carro nem vemos necessidade de ter em São Paulo, onde nossa localização é central e perto do metrô; penso em carro e só penso nas coisas ruins: gasto com estacionamento, combustível, IPVA, maior exposição a situações de risco... os benefícios do transporte não compensavam).
Só que, quando cheguei na parte de organizar a viagem pela Toscana do jeito que sempre imaginei, vi que não seria possível fazer de ônibus: as cidades são pequenas e, mesmo com 4 horários disponíveis no dia para outra cidade, isso nos limitava terrivelmente em termos de deslocamento, só nos permitindo 1 a 3 cidades no máximo por dia. Não seria possível fazer de trem também porque as cidades são muito pequenas e na maioria das vezes nem trem havia. Ora, eu queria ir rodando pelas famosas belas estradinhas e ir parando nas cidadezinhas conforme vontade.
Isso foi o pontapé pra me tirar da zona de conforto e enfrentar a direção (acredite, tantos anos sem experiência de direção dá medo pegar no carro, especialmente na Itália, tão famosa como lugar contra-indicado para se alugar carro).De nós dois, teria de ser eu, não é?
Fiz 10 aulas práticas de direção no começo do ano e cheguei a alugar carro por um fim de semana pra São Roque e um dia em Foz do Iguaçu. A ideia era alugar um fim de semana por mês, mas depois de março não conseguimos mais repetir a dose. O que importa é que perdi o medo que tinha de bater com o carro da frente ou do lado, mudar de faixa (deu pra perceber que minha maior dificuldade era a sensação espacial do carro, não é?) ou mesmo conseguir ligar o carro e mante-lo andando. Quando chegou a vez mesmo de dirigir, não deu outra, o medo bateu de novo, mas foi só ligar o carro e perceber que vinha tudo naturalmente que fiquei mais tranquila novamente.
A experiência de dirigir na Toscana
O primeiro dia foi o Chianti. Essa região é uma das mais lindas pra dirigir: vários morros, diversas visões de vinhedos do alto, cidadezinhas tão lindas... Pra dirigir, porém, acho que foi a mais difícil da Toscana. É que ela é mais cheia de curvas do que todas as outras. Eu ia, claro, numa velocidade baixa e todos passavam com uma velocidade bem acima do permitido. Na maioria das vezes a estrada era tão cheia de curvas que não dava pra ver se vinha carro para permitir a ultrapassagem. Pois isso não impedia os italianos não. Eles eram velozes e destemidos. Passei um sufoco danado nesse sentido. Não sei também se foi porque foi o primeiro dia. Sei que depois no Val d´Orcia e no Val d´Elsa foi bem mais tranquilo.
Estradas da Toscana: curvas, ciprestes e vistas. |
No geral, as pessoas eram bem-educadas para dirigir. Sei que fui bem mais lenta que todo mundo. Isso porque estava morrendo de medo de ganhar multa. E lá é um tal de 30km/h e 50km/h e sua mão fica coçando pra aumentar a velocidade. Não sei como funciona o esquema de multas porque, apesar de haver uma série de recomendações no mundo da net pra seguir rigorosamente as leis por lá (basicamente velocidade e zona de tráfego limitado), tem muita gente que não só roda acima da velocidade como roda bem acima. Por isso eu era a que travava o trânsito. Só ouvi duas vezes buzina pra mim e nenhuma foi por esse motivo. O que eles fazem pra "avisar" da impaciência deles é jogar o carro bem em cima do seu, o que pode ser algo enervante e que me fazia ficar alguns quilômetros acima da velocidade máxima muitas vezes (e que me preocupa quanto às multas, avisarei se foi o suficiente pra gerar uma até daqui a um ano, prazo máximo - e usual - pra recebe-las).
As estradas são todas bem conservadas. Na Itália existem basicamente dois tipos de estradas: as auto-estradas, que são pagas, e as demais, não pagas. Estas podem ser desde estradas com duas pistas em cada sentido até uma via que só dá pra um carro com trechos alargados em que um carro espera enquanto o outro passa. Essas podem ser asfaltadas mas também podem ser de terra. É comum inclusive ter espelhos que permitem que, antes de virar uma curva, o motorista veja se está vindo carro no outro sentido. A maioria das estradas na Toscana são de uma pista pra cada lado, mas podem ser um pouco mais estreitas do que o usual, ou seja, dá pra dois carros juntos mas com pouco espaço entre elas. Acho que o que mais chama a atenção são as curvas, muito comuns, que tornam as ultrapassagens mais difíceis. São relativamente pouco carros na Toscana, facilita para os iniciantes dirigirem por lá. Algumas cidades juntam mais carros e podem gerar um pouco de estresse: Siena, San Gimignano, Montepulciano...
As zonas de tráfego limitado
As cidades da Toscana são pequenas, muitas bem pequenas, e medievais. Isso significa ruas estreitas. Uma forma que elas encontraram pra receber tantos turistas foi fechar o centro histórico, que geralmente é murado (costume das cidades medievais pra se defender), para o trânsito. Ou seja, somente moradores do local (e não da cidade) estão autorizados a entrar. Isso é bom porque permite que os turistas andem sem grandes dificuldades. O que eu vi antes de ir é que esse é um motivo grande de multas, inclusive pesadas, entre 100 e 200 euros, mais uma taxa da locadora de carro. Se vc fizer isso com um número de cidades, imagina a conta! E dizem também que é batata, é só entrar na cidade que sua placa é filmada.
Por esse motivo, existem vários estacionamentos fora do centro e são bem sinalizados. A maioria é paga. Variam de 1 a 2 euros/hora em média e nas cidades maiores, quanto mais perto da atração principal, mais caros. Existem os gratuitos também. Eu tentei pegar o mapa de algumas cidades com a indicação deles, nem sempre consegui, geralmente era mais fácil nas cidades maiores. Isso porque, além de diminuir o gasto da viagem, era uma preocupação a menos ter de voltar na hora estabelecida, pois também há multa se vc deixar estacionado e não estar pago/passar da hora. O que aconteceu é que nas cidades maiores eu fique um pouco estressada e acabei pegando o primeiro estacionamento que aparecia do que ficar rodando e correr o risco de entrar na ZTL. Se vc tem mais experiência de estrada, isso talvez não seja um grande problema e dê pra conseguir as vagas gratuitas.
Existem diversos avisos da ZTL, mas eu vi na internet que muita gente, mesmo procurando por eles, às vezes era multado. Isso foi um motivo de estresse pra mim e, de novo, foi razão de pegar o primeiro estacionamento que encontrava.
Quanto às auto-estradas: elas são poucas e ligam as principais cidades. São retas, várias pistas pra cada mão, pedagiadas (funciona com vc entrando, pegando um ticket, na saída vc apresenta o mesmo e ele calcula o valor a ser pago de acordo com a distância que vc dirigiu); servem pra encurtar a viagem, mas não valem à pena se o objetivo é um roteiro cênico.
Uma coisa que vale à pena saber é que, para dirigir nas estradas na Itália, vc tem de andar com o farol sempre ligado. Pode ser motivo de multa também.
Valeu à pena alugar carro: só assim pra ver essas paisagens! |
Multas
Do que eu li na minha pesquisa: os principais motivos de multa são entrada nas zonas de tráfego limitado, dirigir acima do limite de velocidade (as estradas são bem sinalizadas: dentro das cidades varia de 30 a 50km/h e nas estradas, de 50 a 110km/h a depender do tipo de estrada), estacionamento em lugar proibido e estacionamento sem pagamento (os espaços para dirigir são pintados em branco, não pagos, ou azuis; quando for este o caso, existe o parquímetro e ele é fácil de utilizar, tem orientações em inglês; após realizar o pagamento de acordo com o tempo que vc acha que vai permanecer, é impresso um papel com o horário final; ele tem de ser colocado de forma a ficar exposto pelo pára-brisa).
As multas podem ser cobradas até um ano depois. Há uma grande discussão sobre o que acontece se vc não pagar: desde não ser autorizado a entrar na Itália depois, a não poder mais alugar carro, a também não acontecer nada... Há relatos de consequencias diversas.
Dirigindo na Itália
No resto da Itália eu não dirigi, mas, pelo que eu vi, não acredito ser recomendável dirigir. As grandes cidades têm um trânsito um tanto caótico e um centro que é mais fácil e proveitoso fazer caminhando. Eventualmente maiores distâncias podem ser vencidas com outros meios, não compensa a dor de cabeça pra dirigir e encontrar vaga de estacionamento. Outros lugares muito ruins também pra dirigir são as costas, a amalfitana e a da Ligúria. São locais com ruas estreitas e que juntam muita gente. Dirigir na costa amalfitana, por exemplo, é uma loucura. Só vendo pra entender, mas acredito que seja altamente estressante até pra quem tem experiência. E saiba: vc dirigir significa olhos presos na estrada, não dá pra olhar pro mar não.
Pra quem ficou curioso: tive barbeiragens, cheguei a morrer o carro algumas vezes (uma das vezes foi no meio da estrada, depois de uma rotatória - pois é, sobram curvas e rotatórias na Itália), sofri duas vezes com ladeiras e meia-embreagem (numa delas arranhei o carro no que foi meu maior estresse da viagem - achei que ia ter de pedir pra alguém tirar o carro pra mim), nos perdemos com o GPS (e meio-dia em Orvieto), mas felizmente não sofremos grandes danos e pra mim o saldo foi mais do que positivo. Por isso, não contra-indico dirigir na Toscana mesmo pra principiantes; pros demais, certamente será uma experiência ainda mais prazerosa.
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