3 de fevereiro de 2015

Estratégias de Visita para o Grand Canyon National Park


Os EUA podem sofrer diversas críticas, mas uma coisa que eles sabem fazer muito bem é preservar os parques nacionais. Com a experiência de 3 viagens pra lá, posso dizer que eles conseguem estimular bastante o turismo nacional e os parques são uma fonte enorme de lugares para visitar. Conseguimos inclusive notar vislumbres disso na produção artística americana (coisa que só tomei consciência depois de viajar pra lá). Vai dizer que não lembra dos desenhos do Pica Pau e Zé Colmeia mostrando os observadores de pássaros e os trailers? Ou de filmes como O Rio Selvagem (vc não deve lembrar pelo nome, mas é aquele de Sessão da Tarde que a Meryl Streep leva a sua família por um passeio de bote no rio quando são abordados por uma turma de foragidos da polícia que inclui o Kevin Bacon)? Ou dos famosos park rangers (os agentes ambientais) e dos escoteiros (como Huguinho, Zezinho e Luizinho, os sobrinhos do Pato Donald)? O Grand Canyon é o mais famoso deles, mas existem tantos tão bonitos e impressionantes que também valem a viagem.

Organizando a viagem
O Grand Canyon fica no estado do Arizona e a cidade mais próxima que o viajante comum vai usar de referência é Las Vegas. Outras cidades que vc poderá ter ouvido falar mas provavelmente não cogita visitar nos EUA (porque tem tantos outros lugares muito mais legais pra conhecer) e que são mais próximos do Grand Canyon são Flagstaff e Phoenix. Minha sugestão, portanto, é vc fazer o passeio do Grand Canyon junto com Las Vegas. Juntar com Nova Iorque ou San Francisco não faz muito sentido... A não ser que vc viaje aos EUA apenas para ir ao Grand Canyon, o que fará muito mais sentido ir direto para Phoenix ou Flagstaff.
Os melhores lugares pra ficar hospedado são dentro do próprio parque ou em Tusayan, cidadezinha logo após a saída do parque. Flagstaff não é uma boa opção, vc irá gastar mais de uma hora só pra ir ao parque (ou seja, de 2 a 3 horas por dia...).
De Las Vegas a Tusayan são 4,5 a 5 horas de carro. As estradas estão em ótimo estado, sendo toda praticamente um retão em via dupla. Tem muitos caminhões que estão no limite da velocidade (que varia de 50 a 70 milhas/hora, ou seja, 80 a 112km/hora) e não vão te atrapalhar.
Abaixo listo os locais de hospedagem disponíveis no parque do Grand Canyon e em Tusayan conforme informe próprio. Nos do Grand Canyon foram disponibilizados inclusive os valores dos quartos.

Hospedagem no Grand Canyon:
- Bright Angel Lodge (U$94-404)
- El Tovar Hotel (U$186-464)
- Kachina Lodge (U$194-209)
- Maswik Lodge (U$94-185)
- Thunderbird Lodge (U$194-209)
- Yavapai Lodge (U$140-174)
- Phantom Ranch
- acampamento (altamente recomendável reserva com muita antecedência)

Hospedagem em Tusayan:
- Best Western Premier Grand Canyon
- Squire Inn
- Canyon Plaza Resort
- Grand Hotel
- Holiday Inn Express
- Red Feather Lodge
- 7 Mile Lodge

Quantos Dias Passar
Se vc é o viajante comum, como eu, saiba que dois dias inteiros são bem suficientes. Esse período nos permitiu ver quase todos os mirantes que o parque tem e ainda fazer uma pequena trilha. Dá pra ter uma boa noção do parque com um dia só, mas vc conseguirá ver um pouco menos da metade dos mirantes e não conseguirá visitar nenhuma trilha. Mais do que dois dias são para os viajantes que desejam mais contato com a natureza e gostam de mais suor e adrenalina.Quanto mais dias, mais trilhas e maiores elas podem ser. Pra gente, passar mais tempo só iria nos fazer enjoar do lugar.

O Parque
O parque se estende por toda a região dos cânyons. Dá pra ter uma ideia da sua dimensão por esse painel localizado na área de recepção ao turista no parque. Os mirantes mais acessíveis são aqueles do centro e do lado sul do cânyon. É possível ver os mirantes do outro lado, do lado norte, assim como é possível ver os mirantes nas extremidades. O que ocorre é que vc vai precisar de mais tempo e de um transporte próprio pra cobrir essas diferenças.

Um panorama do Grand Canyon: a área que a gente visitou foi só um pedacinho de tudo isso.

Os turistas que fazem o passeio de Las Vegas, bate e volta, indo até a borda sul do Cânyon (atenção, não é a borda oeste, pertencente aos índios e que tem a famosa passarela de vidro de onde se avista o fundo do cânyon), só conseguem visitar três mirantes, com algum intervalo de tempo disponível (acho que até 2 horas).

Deixa eu abrir um parênteses pra falar desse passeio: nele, o deslocamento dura umas 5 horas na ida e outras 5 horas na volta, contando o tempo de buscar todo mundo no hotel, todo mundo pagar, ter as paradas pra comer e depois devolver todo mundo nos seus cassinos. Eu fiz da primeira vez que fui a Las Vegas, em 2011, e me lembro de que o horário de encontro era entre 5 e 6 horas da manhã. Acho que chegamos no hotel por volta das 22 horas. É bem cansativo, mas pra quem não tem tempo de fazer o passeio como ele merece, eu acho que vale à pena e não me arrependo de ter feito. É fácil de encontrar passeios assim em Las Vegas. Durante a caminhada pelo Las Vegas Boulevard, a avenida principal cheia de cassinos, recebemos alguns folhetos com a propaganda do passeio. São várias as empresas que fazem esse tipo de bate e volta (não, não me lembro do nome da empresa que escolhemos) e oferecem a ida à parte dos índios, que é bem mais próxima, mas que a gente não se interessou porque não era a mais interessante, e essa para a borda sul, que, por ser mais longa, demanda muito tempo de viagem e o tempo lá é curto. Na ida fomos assistindo a um vídeo sobre o Hoover Dam que falou sobre sua construção no meio do deserto, sem apoio logístico próximo, sobre os inúmeros acidentes de trabalho. Achei o vídeo um dos pontos altos da viagem. Digo isso pq eu não curto muito essas coisas tecnológicas e o Hoover Dam é famoso pelo seu tamanho, então seria algo fácil de desbocar para um documentário recheado de termos técnicos e pouco interessante para mim. Ele falou dessa parte, mas o foco do vídeo foi mesmo a construção de um treco no meio do nada e a parte humana da história, juntou com a própria história dos EUA e sabe um momento em que sua visão de mundo muda? Foi isso que eu senti quando assisti ao vídeo. De repente, passei a enxergar o Hoover Dam, Las Vegas e o próprio EUA de uma forma diferente. Quando a gente passou pela represa, até me interessei em vê-la. Pois bem, tem essa paradinha, que a gente acabou  se demorando pouco (uma moça passou mal na hora dos pagamentos num local com vários ônibus e passageiros e saímos um pouco tarde); tem uma paradinha pra comer no McDonald´s e só me lembro depois das paradas pra ver os mirantes no Grand Canyon. A paisagem da estrada é bem bonita, desértica, com cactus e vegetação característica.

Mapa do Grand Canyon National Park mostrando os mirantes mais centrais próximo à entrada. Nele é possível ver as linhas de ônibus vermelha, azul e laranja e as interligações entre elas.

Mapa do Grand Canyon National Park mostrando com destaque os mirantes da extremidade leste, na Desert View Drive. Depois do Yaki Point, o acesso só é feito com transporte próprio. É possível ver também os mirantes mais centrais da linha vermelha (Hermits Rest Route).

Voltando ao assunto, o que eu quis dizer é que uma grande parte dos visitantes irá se concentrar nos mirantes do meinho do parque, logo na chegada. Andando um pouco mais para os lados, dá pra conhecer uns mirantes meio cheios, mas ainda centrais. Menos cheios ainda são os mirantes das extremidades. A gente chegou a ir neles. Os mirantes da extremidade oeste são acessíveis só de ônibus. A gente tem de deixar o carro em determinado ponto e seguir com o ônibus do parque, que passa a cada 20 minutos. Os mirantes da extremidade leste são acessíveis só de carro e são bem mais distantes do que os do lado oeste. Do lado oeste a gente viu uns alces no caminho, parados tranquilamente do lado da estrada. A gente não chegou a ir no lado norte, mas pelo que lemos tem ainda menos gente, é um lado mais "selvagem" do parque. Se vc quiser, é possível ir, tem várias placas indicando o caminho, mas só de carro.

Por fim, é possível descer trilhas para ver os cânyons por dentro. Lembro-me bem de dois pontos de trilhas, um mais a leste e outro mais a oeste. Essas trilhas recebem notas para os seus graus de dificuldade e contam a distância, o quão íngreme são, o estado do terreno. As placas avisam sobre as diferenças de temperaturas e o tempo que normalmente é gasto em cada um. Por exemplo, no ponto X tinha uma trilha. Ela podia ser feita até três pontos diferentes. Nós fizemos o primeiro que era até o Ooh Aah Point, com previsão de término em 2 a 4 horas ida e volta. Se quiséssemos, era só continuar até o segundo ou mesmo terceiro ponto. Não são poucas as pessoas que fazem essas trilhas e há inúmeros avisos alertando pra não tentar ir até o rio Colorado e voltar no mesmo dia.


Iniciando o Passeio

A frente do Grand Canyon Visitor Center.



Dentro do Grand Canyon Visitor Center.

Pra entrar no parque vc precisa pagar uma admissão que custa U$25 por carro. Vc pode comprar no National Geographic Center, em Tusayan, ou na portaria (que é ao estilo dos pedágios). Preferimos comprar na portaria pq tínhamos levado o dinheiro em espécie e no National Geographic Center a gente só podia comprar na máquina, que só aceitava o cartã de crédito. Vc cola essa admissão no vidro do carro e, se não me engano, tem a data nele. Existe uma validade de sete dias que lhe permite entrar direto pela portaria das outras vezes sem parar.

Após passar pela portaria, é só seguir até o primeiro grande estacionamento. Lá perto tem o Centro de Visitantes, banheiros e lanchonete. No Centro vc adquire um jornalzinho do parque com todas as informações sobre ele: mapa, locais dos restaurantes, mirantes, trilhas etc.


Os Mirantes e as Linhas de Ônibus
O mirante mais popular é o Mather Point, que fica do lado do Grand Canyon Visitor Center e dos grandes bolsões de estacionamento que se encontram pouco depois de entrar no parque. Logo do lado dele, o mais próximo a oeste, se vê o  Yavapai Point. Nesse local tem um pequeno museu de geologia que mostra como surgiu o Grand Canyon. Vale à pena conhecer e é facilmente acessível a pé do Mather Point. Ainda que seja possível ir andando entre um mirante e outro na maioria dos casos, os demais são mais distantes e acho que já é melhor ou pegar o carro ou o ônibus gratuito do parque.

À leste do Mather Point, em ordem de distância deste, estão os mirantes Pipe Creek Vista, South Kaibab Trailhead, Yaki Point, Grandview Point, Moran Point, Lipan Point, Navajo Point e Desert View. O ônibus, da linha laranja, sai do Yavapai Point até o Yaki Point. A partir daí, só se alcançam as demais de carro. Do South Kaibab Trailhead parte a trilha South Kaibab. No Desert View existe uma torre de onde é possível apreciar a vista de uma posição mais alta; nela se encontram umas pinturas indígenas que são legais de ver. Caso vc decida seguir até lá, dá pra parar nas ruínas e museu de Tusayan, um pouco antes do Lipan Point.

Torre no mirante Desert View, no Grand Canyon.


Pinturas indígenas no interior da torre, no mirante Desert View, no Grand Canyon.


Vista do Grand Canyon a partir da torre no mirante Desert View.

Museu Yavapai, no mirante Yavapai.


A gente viu diversos desses animais nos mirantes mais a oeste da linha vermelha.

Ruínas indígenas na Desert View Road, no Grand Canyon: acesso só de carro.

A linha que serve esses mirantes, ainda que parcialmente, é a linha laranja (Kaibab/Rim Route). A viagem toda dura 50 minutos, começando a circular a partir das 5 horas até 30 minutos após o pôr-do-sol, passando a cada 15-20 minutos.

A linha azul (Village Route) é a mais central e não leva a mirantes, mas liga as linhas laranja e vermelha e conecta-as com a parte de serviços do parque (hoteis, restaurantes e mercado). Ela funciona das 5h às 21:30h, a cada 15-20 minutos. Ela passa nos mirantes Mather Point e Yavapai Point e termina no Village Route Transfer, ponto que permite a troca para a linha vermelha.

A linha vermelha (Hermits Rest Route) dá acesso aos mirantes do lado oeste: Trailview Overlook, Maricopa Point, Powell Point, Hopi Point, Mohave Point, The Abyss, Monument Creek Vista, Pima Point e Hermist Rest. Na ida ele pára em todos; na volta, ele só pára no Pina Point, Mohave Point e Powell Point. A linha vermelha leva 80 minutos no total, funcionando das 5h até 30 minutos após o pôr-do-sol, a cada 15 a 30 minutos.

No interior do ônibus do parque do Grand Canyon.


É possível ir andando, entre caminhos pavimentados ou não, do mirante Hermits Rest, último da extremidade oeste, até o South Kaibab Trailhead, a leste do Mather Point (mas que não é o último da extremidade leste). Pra calcular o tempo entre um e outro mirante o jornalzinho do centro dá as distâncias em quilômetros e milhas entre um e outro ponto.

Também é possível ir de bicicleta, sendo possível acopla-las na frente dos ônibus caso se canse em algum ponto do caminho.




As Trilhas
As trilhas são três: a Bright Angel, que fica próximo do Hermits Rest Route Transfer (ponto da linha azul que vc irá descer para poder pegar a linha vermelha); a South Kaibab, que sai do mirante South Kaibab Trail, na linha laranja; e a Hermit e Dripping Spring, que partem do último mirante da linha vermelha, o Hermit Rest.

Bright Angel: tem seis pontos de destino, o primeiro (Upper Tunnel) fica a 600m do ponto de partida com tempo de ida e volta previsto de 20 minutos; o último (Plateau Point) fica a 19,3km e a previsão é de 9 a 12h para ir e voltar. Os demais ficam em algum ponto do caminho. Existe água e banheiro disponível no meio da trilha, que é mais íngreme do que a South Kaibab.

South Kaibab: tem três pontos de destino, sendo o mais próximo o Ooh Aah Point, de 2,9km, com tempo previsto para completar de 1 a 2 horas, e o último o Skeleton Point, de 9,6km, com duração prevista de 4 a 6 horas. Essa trilha revela as melhores vistas durante uma trilha relativamente curta.

Hermit e Dripping Spring: são três pontos, o Hermit Basin, de 4,5km, até o Dripping Spring, de 11,3km, com duração de 2 a 4 horas e 5 a 7 horas respectivamente. Essa trilha é selvagem e não é mantida, sendo recomendada apenas para quem tem experiência de fazer trilha em deserto.

É possível ir andando, entre caminhos pavimentados ou não, do mirante Hermits Rest, último da extremidade oeste, até o South Kaibab Trailhead, a leste do Mather Point (mas que não é o último da extremidade leste). Pra calcular o tempo entre um e outro mirante o jornalzinho do centro dá as distâncias em quilômetros e milhas entre um e outro ponto. Ela é chamada Rim.


No começo da trilha South Kaibab, olhando o que nos espera.


Um tanto depois na trilha South Kaibab, já conseguindo ver a beleza do Grand Canyon se descortinando ainda mais.

O caminho entre um e outro mirante no parque do Grand Canyon, a chamada Rim Trail (trilha da borda).

Onde Comer
Não há muita disponibilidade de lugar pra comer no parque, mas eles existem em alguns lugares estratégicos:

- em frente ao Centro de Visitantes tem uma lanchonete, o Café at Mather Point;
- no Yavapai Lodge, no Market Plaza, tem uma cafeteria;
- no Maswik Lodge, no Market Plaza, oferece algumas opções como pizzas;
- no Market Plaza tem um mercadinho chamado Canyon Village Deli;
- no Bright Angel Lodge, hotel no Grand Canyon Village (linha azul), tem restaurante e cafeteria;
- no El Tovar Hotel, no Grand Canyon Village, tem um restaurante;
- no mirante Hermits Rest tem uma lanchonete;
- no mirante Desert View ainda tem um mercadinho e uma lanchonete.

Eu cheguei a almoçar no primeiro dia no Bright Angel Lodge e no segundo dia comprei algumas coisas no mercadinho do Desert View. Surpreendi-me com o valor cobrado, que achei bem honesto e de forma alguma caro pensando que é um local afastado de outras opções.

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